Passei os dois últimos dias sem celular e, ainda estou. Em quase dez anos, que foi quando tive o primeiro deles, agora, pela primeira vez, há mais de 24 horas estou sem usá-lo.
Tinha o hábito de pegar nele toda hora e ascender, pra ver se tinha chamada perdida, msg, pra olhar a hora, enfim... Esse hábito era algo com o qual eu gastava muito tempo do meu dia; mas, só agora percebi isso. Isso, sem contar o tempo de "uso real", ou seja, atendendo ou ligando. Tem coisas que são importantes, outras são essenciais. Ter celular é importante – alguns até diriam: "pode salvar uma vida!" – mas, deixá-lo “parado” de vez em quando é essencial! Aqui, cabe novamente: só agora percebi isso!
Olho pra ele ali no canto, desligado, carregando, mas sem carregar (eis o defeito) e, sinceramente, me sinto tão bem!... Ele era como se fosse um adulto na minha inteira responsabilidade e agora, me livrei. Cuidar de criança pode até ser cansativo, mas é muito divertido, na maior parte do tempo... Agora, cuidar de um adulto... Dez vezes mais exaustivo que cuidar de uma criança e, sem nenhum divertimento.
O celular era como algo que, obrigatoriamente eu tivesse que vigiar, cuidar pra não cair, carregar a bateria uma vez por semana pelo menos e, até "levar pra passear", porque nunca fui a lugar nenhum sem que ele estivesse comigo na bolsa. E quando esquecia em casa, era deprimente (confesso que algumas vezes voltei pra buscar)! A sensação era de ter esquecido muito mais que um objeto inanimado. Um vazio estranho... Nem um amigo verdadeiro fazia tanta falta, ao que parece!...
E as horas então... Nunca fui de usar relógio, mas ganhei um de natal (na verdade, ganhei 3) e daí? Continuava abrindo a bolsa pra pegar o celular e ver a hora nele; tendo relógio no braço!... Dependência integral, absoluta e pensava que seria eterna. Tomara que ele fique um bom tempo estragado. Tá sendo uma experiência única e muito edificante. Porquê?
Bom, um dos nomes do Deus que servimos é PASTOR – O Bom Pastor – e, em função dessa Sua especificação, Ele não perde nenhuma oportunidade de nos discipular, apascentar, instruir... Da última vez que olhei pro meu celular estragado ali no chão, me sentindo bem em relação a isso, Deus me dissse: “viu como ele não era assim, tão importante?!...” Em seguida, me encheu com um senso renovado de prioridade. Me fez ver a diferença citada acima, entre o importante e o essencial. Não que hoje tenha gastado meu tempo com algo fútil – sobre tempo, o Senhor já tem falado comigo há vários meses e, tenho conseguido usá-lo de forma produtiva – mas, quando Deus nos tira algo que julgamos de extrema importância, quando Ele permite que fiquemos sem o tal objeto ou pessoa, enfim, significa que Ele quer nos fazer crescer ou nos fazer criar e, com a tal coisa em uso, ou com a tal pessoa junto, jamais iríamos enxergar isso! Tem coisas ou pessoas que são primordiais pra nós e, por elas, esquecemos um pouco de como somos ou do que éramos capazes de produzir sem tê-las por perto. Pode ser algo banal, como um celular... Algo tão ordinário quanto isso... Damos tanta importância, que fazemos de tal coisa nossa escora e, nos fechamos pra muitas coisas que são realmente prioritárias. Às vezes, por voltar em casa pra buscar o celular esquecido em cima da mesa, perdemos o início do culto e adivinha: era exatamente o início daquele culto que Deus tinha reservado pra nos abençoar, ou ainda, pra nos fazer ser exortados naquele erro constante que está paralisando toda nossa vida... Era o início, poderia ser o fim, poderia ser no desenvolvimento do louvor, mas Deus escolheu o início. E perdemos o muito, aliás, perdemos o TUDO, por causa do nada. Que, nesse exemplo, o “nada”, seria um telefone celular. Se Deus me tirou ele por tempo indeterminado, é porque quer que eu produza algo novo, Ele me fez sentir isso. Deus está requerendo de mim algo que eu não seria capaz de fazer se tivesse um celular funcionando; atendendo, ligando, lendo msg e respondendo, enfim... A sede de crescimento também está queimando no meu coração. Preciso tanto crescer mais!... Diminuir na verdade, pra que o Senhor creça em mim.
Deus é tão normal às vezes... Mais normal do que um celular. De forma simples, Ele fala, escuta, aceita, transforma, ajuda, direciona... Se mostra nas montanhas, nos grandes vales, nos desertos, na congregação e... Num celular com defeito.
Deus é adorável, por ser grande e temível e, por ser singelo e comum apto a nos preencher na nossa pequenez e nas nossas incapacidades!
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